A nossa saúde não deve ser um deles. Melhor, não pode ser um deles! Não pode ser possível que a nossa saúde nos impeça de alcançar o que queremos atingir, tornando o caminho mais árduo e difícil do que tem de ser, quando a compreensão da nossa biologia e bioquímica avançou tanto. Em vez de estar contra nós, deve sim estar ao nosso lado, ao nosso serviço, e não a boicotar cada esforço e cada passo.
Acredito que não pode ser o nosso corpo a limitar o que podemos alcançar na vida. Acredito que é possível aumentar as hipóteses de atingir os sonhos e cumprir os objectivos traçados quando descobrimos porque o corpo não está a funcionar na melhor das suas capacidades. É por isso que faço o que faço.
A minha história na Medicina começou há muito tempo. Sendo filho de quem sou, desde cedo fui ouvindo histórias sobre o modo como a medicina era apenas uma ferramenta para atingir um fim terapêutico, sendo limitada no modo como abordava situações crónicas complexas. Durante a minha vida ouvi relatos de pessoas que melhoravam de forma fantástica quando se aliava à medicina a ciência oriunda de outras disciplinas clínicas, como a nutrição ou a psicologia. Sempre achei que o normal era as pessoas poderem melhorar mesmo quando o caso era complexo.
Só durante o curso de Medicina no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto me apercebi que 1. as doenças que sempre ouvi dizer que melhoravam ou desapareciam não era suposto melhorarem ou desaparecerem, e 2. muito pouco ou quase nada era dito sobre as estratégias eficazes que eu sabia serem aplicadas com sucesso na clínica. Estava lançado o caos mental! Como é que, em 6 anos do curso de medicina, não havia uma cadeira de nutrição? Porque as cadeiras de fisiologia ou bioquímica faziam parte dos primeiros anos e não permanentemente? Mais, porque não tinha a estrutura das cadeiras do curso mudado desde os anos 70 ou 80, acompanhando a evolução do conhecimento?
Enquanto tentava acabar o curso, fui continuando a aprender o que a minha mãe ia sabendo, estudando e investigando, bebendo do seu conhecimento. Durante bem mais de 10 anos - na verdade, durante grande parte da minha vida - fui entendendo os fundamentos e tratamentos desta nova abordagem médica, a que agora se chama Medicina Funcional, embora tenha sido a única Medicina que sempre conheci.
Durante o internato médico para me tornar médico de família, o contraste com as histórias de sucesso que ouvia em casa tornou-se ainda maior. Todos os dias diminuía o impacto e o sofrimento que as doenças crónicas causavam na vida das pessoas, recorrendo a fármacos: antibióticos, antiinflamatórios, antihipertensivos, antidiabéticos, antidepressivos. Contudo, não era mais do que isso. De “anti em anti” lá íamos, conforme o que fosse mais premente. Não era, no entanto, possível, por falta de vontade ou tempo, juntar as peças do puzzle de cada um, encontrar a causa do quadro, ir muito para além do sintomas, a demonstração evidente do problema (verdade seja dita, como é possível fazê-lo quando as consultas têm 20 minutos?).
Não sou por isso o seu médico habitual. Apesar de ser formado em Medicina - ou talvez por ser formado em Medicina -, sei que é possível ir mais além do que é normalmente dito ser possível, se se aliar a melhor ciência de diferentes áreas, numa atitude de investigador perspicaz, aliada ao espirito curioso da uma criança na idade dos porquê. Daí que, quando confrontado com o modo como o sistema médico tradicional abordava situações multifactoriais e complexas, as suas falhas se tornaram facilmente evidentes.
Também não sou o médico de medicina funcional habitual. A minha história torna-me num caso raro. Sou um dos poucos médicos de medicina funcional de segunda geração. A minha formação funcional foi feita ao longo de décadas, de mãe para filho, em reuniões e discussões clínicas à volta da mesa de jantar. Essa passagem de conhecimento tornou a minha visão do corpo como um todo, a minha investigação clínica dirigida, e a minha compreensão de como, tratando a montante a causa, as demonstrações do problema a jusante melhoram ou desaparecem.
Quando, nessas divertidas e acesas discussões, comecei a desenhar os quadros clínicos, desafiar o raciocínio experiente e único da minha mãe e completar as suas frases, soubemos que o legado estava passado. Dizem que “filho de peixe sabe nadar”. Assim espero.
Ainda durante o internato médico comecei a trabalhar na clínica, começando passo a passo. Sabíamos que, um dia, teria de assumir o leme e liderar a equipa criada ao longo dos anos, continuando a ajudar quem a nós recorria.
Esse dia chegou. Ao longo da sua vida, ajudou muita gente a salvar-se e a recuperar a sua saúde. Conseguiu adiar o destino por duas vezes, mas não foi capaz (de vencer). Em Novembro de 2014, a minha mãe faleceu, deixando-me a cargo do projecto da sua vida, que passava a ser o meu. Tornei-me assim director clínico da clínica Dra Cristina Sales - Medicina Funcional Integrativa.
Foi-nos possível manter o seu legado vivo e perpetuar o seu compromisso para com quem nos procura:
O foco nos detalhes e pormenores (onde muitas vezes está a chave do caso)
A procura incessante pelas opções terapêuticas mais adequadas
O maior conhecimento possível da melhor evidência científica
A personalização de todo o processo
Em busca das melhores ferramentas terapêuticas, rumei em Março de 2015 a São Paulo, Brasil, para estagiar com o Professor Cícero Coimbra na sua clínica, aprendendo todos os detalhes e nuances do Protocolo Coimbra, o tratamento de doenças autoimunes com o uso de vitamina D. Na altura, fui o segundo médico na Europa a fazê-lo.
A implementação deste protocolo terapêutico fez-se a par do desenvolvimento da nova era da clínica. Fiel ao legado da minha mãe, fui-me adaptando aos novos tempos e expandindo os horizontes e alcance das nossas abordagens.
A curiosidade por perceber se os genes seriam a peça que faltava no meu arsenal levou, em 2017, a inscrever-me numa formação em Londres sobre nutrigenética, sem saber que seria um momento marcante na minha carreira profissional. Não só descobri como poderia aperfeiçoar a investigação clínica e optimizar a personalização dos tratamentos, como foram dados os primeiros passos no estreitamento da minha relação com o Nordic Group.
No início de 2018, passei a integrar a sua equipa internacional de formadores, com particular foco na otimização da performance cognitiva, desportiva e imunitária, sendo mais tarde convidado a integrar o seu clinical board e liderar a expansão da rede internacional de clínicas Nordic Clinic em Portugal, Espanha e Brasil, parceria essa que terminou em 2020
Em 2019, e após consecutivos adiamentos por compromissos profissionais múltiplos, iniciei a formação “formal” de medicina funcional pelo Institute for Functional Medicine.
Ao longo dos últimos anos, os pedidos de consultas foram-se multiplicando, vindos um pouco por todo o mundo. O meu compromisso para com aqueles que têm a coragem de assumir a responsabilidade pela sua saúde e a força para lutar pelos seus sonhos levou-me a abrir ainda mais as portas do consultório e abraçar novos destinos. Para além de Lisboa, viajo frequentemente para Roménia, Grécia e Escandinávia, permitindo maior acessibilidade aos nossos tratamentos. Actualmente acompanho pessoas de mais de 45 países espalhadas por 5 continentes, com o mesmo objectivo: fazer com que o organismo não imponha um tecto ao que é possível atingir.
Apesar do foco em ajudar quem nos procura e de ser aí que dedico o maior tempo possível, viajo para partilhar a minha visão e o fruto da nossa prática clínica. Desde a Assembleia da República Portuguesa ao Kuortane Olympic Training Center na Finlândia, tenho tido o privilégio de falar em diferentes palcos pela Europa sobre nutrição, performance desportiva e mental, nutrigenética e autoimunidade.